PORQUE ESTAMOS EM ABRIL... RELEMBREMOS AOS MAIS NOVOS...


A 1ª senha, para o início das operações militares a desencadear pelo Movimento das Forças Armadas, foi dada por João Paulo Dinis aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa: «Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74, E Depois do Adeus ...».


A 2ª senha, para continuação do golpe foi dada pela canção Grândola, Vila Morena, de José Afonso, gravada por Leite de Vasconcelos e posta no ar por Manuel Tomás, no programa Limite da Rádio Renascença, à meia-noite e vinte, sendo antecedida pela leitura da sua primeira quadra.
Grândola, Vila Morena foi composta como homenagem à "Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense", onde no dia 17 de Maio de 1964, «Zeca» Afonso actuou.
Depois, fez-se a leitura de poemas da autoria de Carlos Albino, jornalista do República e colaborador naquele programa, que, a pedido de Álvaro Guerra e do comandante Almada Contreiras, tinha ficado incumbido de enviar senhas para sincronizar o golpe do MFA.
Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 04:20hAqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária

Comunicado do MFA do dia 25 de Abril de 1974 às 14:30hAqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.Pretendendo continuar a informar o País sobre o desenrolar dos acontecimentos históricos que se estão processando, o Movimento das Forças Armadas comunica que as operações iniciadas na madrugada de hoje se desenrolam de acordo com as previsões, encontrando-se dominados vários objectivos importantes de entre os quais de citam os seguintes:- Comando da Legião Portuguesa- Emissora nacional- Rádio Clube Português- Radiotelevisão Portuguesa- Rádio Marconi- Banco de Portugal- Quartel-General da Região Militar de Lisboa- Quartel-General da Região Militar do Porto- Instalações do Quartel-Mestre-General- Ministério do Exército, donde o respectivo Ministro se pôs em fuga- Aeroporto da Portela- Aeródromo Base n.º 1- Manutenção Militar- Forte de PenicheS. Ex.ª o Almirante Américo Tomás, S. Ex.ª o Prof. Marcelo Caetano e os membros do Governo encontram-se cercados por forças do Movimento no quartel da Guarda Nacional Republicana, no Carmo, e no Regimento de Lanceiros 2 tendo já sido apresentado um ultimato para a sua rendição.O Movimento domina a situação em todo o País e recomenda, uma vez mais, a toda a população que se mantenha calma. Renova-se, também, a indicação já difundida para encerramento imediato dos estabelecimentos comerciais, por forma a não ser forçoso decretar o recolher obrigatório.Viva Portugal!

Comentários

Anónimo disse…
Qualquer português, independentemente das suas opções ideológicas, terá de reconhecer que o 25 de Abril devolveu Portugal à contemporaneidade, recentrou-nos no concerto Internacional e nos voltou para a Europa. Para quem integrava a juventude de então o atraso que pressentíamos no País face ás notícias que nos chegavam da Europa e da América era enorme e gritante, sobretudo a partir do Maio 68 Françês. Isto, no campo dos costumes, da arte e principalmente na Liberdade de a juventude ensaiar com autonomia a expressão dos seus anseios.
Era realmente no campo político uma grande frustração a impossibilidade de exprimir com liberdade o apoio às ideias e forças que lutavam pela transformação e que se viam forçadas a participar limitadamente nos arremedos de eleições que se encenavam. Por isso, a adesão à proclamação dos ideais de Abril concitaram por parte da juventude de então uma adesão geral e empenhada.
Assim, a juventude actual tem igualmente de defender os valores de Liberdade que receberam como testemunho, pois, a Liberdade só existe quando exercida com consciência e, nunca se devem esquecer os exemplos históricos, alguns deles bastante recentes.

Um beijo com cheiro a cravos
Ana Sofia disse…
...relembram-se os tempos,
relembram-se as músicas,
relembram-se as vozes...
até parece que se ouve o ruído característico dos rádios dessa altura...
Boa crónica.
beijos e sorrisos.
Anónimo disse…
Amiga

Após ter sido sujeita a alguns excessos de decibéis, aproveito para restituir alguma tranquilidade aos meus neurónios, que bem precisam. Assim:
Agradeço a recepção amável que fizeste à minha intervenção. Há momentos em que atribuímos um especial significado a esta possibilidade que o 25 de Abril nos trouxe de comunicarmos e algumas vezes nos apoiarmos, independentemente das diferenças de geração, género, conhecimentos e sensibilidades.
Relembro o verso, para mim, mais significativo sobre o 25 Abril.

25 DE ABRIL / Sophia de Mello Breyner Andresen

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Deixo-te um cravo vermelho, de fogo, de força e de LIBERDADE.

MADRUGADA MAGNIFICA ….ESPERAR
Ou seja, ter a certeza que aquilo que se almeja empenhadamente, com razão, sempre há-de surgir.
“E depois do Adeus”…Um Xi desta “chat” (a)

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